Tá bem certinho

Gráfico mostra a correlação entre o número de mortes por afogamento ao cair em piscinas, nos EUA, e o número de filmes lançados com o ator Nicholas Cage, num ano.

No excelente “Como mentir com estatística“, eis o primeiro exemplo citado por Darrell Huff para apresentar do que se trata o livro, e sua importância para qualquer pessoa que gosta de consumir informação (só tenho o livro no original em inglês e estou com preguiça de traduzir, me desculpem):

Suppose you were to send to a group of your fellow-citizens a questionnaire that included this query: ‘Do you like to answer questionnaires?’ Add up the returns and you would very probably be able to announce that an overwhelming majority – which, for greater conviction, you would specify right down to the last decimal – of ‘a typical cross-section of the population’ asserts affection for the things. What has happened, of course, is that most of those whose answer would have been No have eliminated themselves from your sample by flinging your questionnaire into the nearest wastebasket.”

A citação está, literalmente, na segunda página do livro, e me veio à lembrança ao ver a publicação do resultado de uma pesquisa do Grupo de Planejamento de São Paulo, no site B9 (aviso: já fui um dos colaboradores oficiais do site, e sou amigo da Juliana Wallauer, que assina o texto). Lá está, no título, a afirmação de que “90% das mulheres afirmam já ter sofrido assédio no mercado de comunicação em SP”. Mas e de onde saiu esse dado?

O estudo foi respondido por 1.400 pessoas através de questionário online, sendo 68% mulheres e 32% homens com média de idade de 33 anos.

Considerando a potencial minúscula audiência desse blog, me parece de todo desnecessário fazer mais algum comentário sobre a validade da pesquisa. Talvez interessante notar, no entanto, ser produto da entidade cuja missão é “buscar a valorização do planejamento como disciplina” – planejamento, para quem não conhece, sendo a área da publicidade que se debruça sobre estudos e pesquisas para encontrar insights do comportamento humano que possam ser aproveitados para lhe vender mais de alguma coisa.

Pode ser só o meu viés de confirmação, mas tenho dificuldades de ver tão belo exemplo da mania de publicitários de usar dados da forma mais irresponsável do mundo como embasamento para o que queriam provar desde o início sem lembrar do avanço galopante das consultorias sobre as agências mundo afora (bem como da crescente falta de relevância das áreas de planejamento nas agências).

(Gráfico retirado do maravilhoso Spurious Correlations)

posted: 17 November 15
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