Como o Super Bowl só me deixou com mais sede de NBA

Durante o Super Bowl, neste domingo, uma estatística me chamou atenção: em todas as vezes que a melhor defesa encontrou o melhor ataque no último jogo do ano, só perdeu uma vez. Não por acaso, foi um dos meus jogos preferidos da vida. Mas, de fato, defesas ganham campeonatos na NFL.

Minha primeira reação depois da partida – e não totalmente egoísta visto que parece bastante claro que o público em geral odeia partidas dominadas por defesa tanto quanto eu – foi pensar no que a NFL poderia fazer para mudar as regras e dar um pouco mais de poder para os ataques. Considerando que a liga vem batendo recorde atrás de recorde de audiência, porém, imagino que não é algo com que vão se preocupar tão cedo. E foi daí que eu me peguei pensando por que, afinal de contas, eu gosto tanto de basquete – ou da NBA, mais especificamente.

Broncos e Panthers não se enfrentaram nenhuma vez durante a temporada. É claro que ambos tiveram tempo para se estudar, mas não é preciso jamais ter jogado algum esporte coletivo pra imaginar que ver filmes e analisar jogadas e estratégias é diferente de entrar em campo e efetivamente encarar outro time. E se por um lado, o Broncos encarou um número razoável de ótimos ataques durante a temporada – Packers, Patriots, Steelers, Bengals -, o Panthers jogou em uma conferência extremamente ofensiva onde a melhor defesa – o Seahawks – demorou metade da temporada para engrenar. Na verdade, em uma liga que dá tanto valor para quarterbacks e wide receivers, não é estranho o fato de que existem muito mais times com ataques entre bons e excelentes do que com defesas fora de série.

O que se viu, no fim, foi um Panthers que claramente não estava preparado para o trator defensivo do time de Denver. Cam Newton foi pressionado em 42.9% de suas jogadas, o máximo em toda sua carreira. Resultado: sete sacks (recorde em um Super Bowl), 3-de-15 conversões de terceiro down, quatro fumbles e uma interceptação.

Mas e o que a NBA tem a ver com isso? Acontece que apesar disso tudo, o time de Charlotte conseguiu avançar um total de 315 jardas no jogo – bem mais que as 194 que permitiram ao Broncos. O que me faz crer que, se em vez de apenas um jogo, a final da NFL fosse resolvida em uma melhor de 3, ou quem sabe de 5 partidas, o Panthers poderia acabar encontrando respostas para lidar com Von Miller e companhia. O que, por sua vez, teria obrigado o Broncos a fazer novos ajustes e lidar com essas mudanças, e assim por diante. E em última análise, é esse jogo de xadrez que realmente me atrai num esporte.

Pois o que para muitos é a fraqueza do basquete – o grande número de pontos e de partidas ao longo de uma temporada – acaba sendo, para mim, seu grande atrativo. Primeiro que, no caso da NBA, nenhum time chega aos playoffs sem ter jogado contra qualquer outro time na liga pelo menos duas vezes. Além disso, a grande quantidade de pontos e trocas de posse significa que essa dinâmica de mudanças de estratégia para lidar com uma determinada realidade momentânea do jogo acontece várias vezes durante uma partida. Quando a temporada termina, todos os times que chegam aos playoffs tiveram um claro desenvolvimento ao longo de 82 partidas. Tiveram que criar diferentes estratégias defensivas para lidar com determinados jogadores, tiveram que mudar rotações por causa de lesões e assim por diante.

Como o máximo de jogos contra um determinado time é de 4 (menos de 5% do total), porém, nem sempre terá valido a pena buscar estratégias mais específicas para um ou outro time que tenha maior sucesso (para usar o exemplo da atual temporada, o Spurs está mais preocupado em desenvolver o time para ganhar o maior número possível de partidas do que, especificamente, conseguir ganhar algum jogo contra o Warriors). Podem ter preferido não cansar demais um ou outro jogador, mesmo que significasse perder uma partida específica, e assim por diante. E aí está o valor dos playoffs.

Se o Spurs pode se dar ao luxo de não se dedicar 100% a vencer o Warriors durante a temporada normal, cada enfrentamento dos playoffs é caso de vida ou morte. E os times passam a estar totalmente focados em aproveitar toda e qualquer brecha do adversário e vice-versa. Algum jogador pode passar a ter a missão exclusiva de marcar e evitar que o melhor jogador do outro time faça pontos, mesmo que isso signifique não ter quase nenhum impacto no ataque. Outro time pode usar seu melhor jogador como isca para abrir a defesa alheia, e jogar de forma muito mais agressiva do que fazia durante a temporada normal. E essas mudanças de dinâmica podem ser enormes de um jogo para o outro.

A final do ano passado foi um ótimo exemplo disso, quando o Warriors resolveu botar Andre Iguodala de novo na rotação principal devido ao seu sucesso em marcar LeBron James e, com isso, destruir o ataque do Cavaliers (o que acabaria lhe rendendo o MVP das finais). Antes disso, o Warriors já tinha sido obrigado a fazer ajustes importantes para lidar com a forma como o Rockets se aproveitou de obrigar Curry a passar mais tempo na defesa e não conseguir entrar no seu ritmo normal de jogo. E assim por diante.

Tudo isso, claro, não quer dizer que eu não goste de futebol americano, muito pelo contrário. Menos ainda que eu não entenda que a maioria das pessoas prefira a imprevisibilidade e emoção de um campeonato definido em uma partida única, e num esporte cujo escore é baixo o suficiente para que eventuais cagadas tenham maior peso no resultado final (ainda que não baixo o suficiente para que a arbitragem seja invariavelmente decisiva, como no futebol inglês). Mas esse Super Bowl quase que excessivamente defensivo acabou me lembrando por que eu gosto tanto do basquete e costumo dizer para vários amigos que o escore final (e a suposta falta de emoção pelo fato de o favorito quase sempre vencer) é quase irrelevante.

posted: 16 February 8
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